quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O Rodo do Arquiteto

Vou tomar o banho na casa nova e a água do chuveiro não escorre para o ralo, pois uma coisa tão simples dessas, como "a água deve descer pelo ralo", não passa pela mente do pedreiro.  Como a kitinete é alugada, não tenho muito o que fazer a não ser usar o rodo e lembrar todo dia que faltou um acompanhamento técnico de um profissional qualificado.   

Em uma obra em Porto Alegre da Oftalsul quando ligaram o ar condicionado começou a vazar água, quando quebramos para ver o dreno estava subindo desafiando a lei da gravidade. Parece brincadeira, mas é verdade.  Numa outra obra de uma cobertura terminada as instalações hidráulicas não saia água em nenhum ponto, é que fecharam a parede e colocaram o revestimento sem fazer a ligação com o rede de abastecimento. Ah. Nestas obras que projetei não fui contratado para o acompanhamento técnico da obra. 

Lembro que alguns anos depois de formado um pedreiro estava fazendo a parte hidráulica de uma obra sem tubos de ventilação (TV) e questionado falou que fazia 20 anos daquela forma todo cheio de orgulho. Meu sócio na época foi categórico: - Faz 20 anos errado!  

Os usuários dos ambientes não contratam um profissional qualificado e ficam 10 anos, ou mais, com ralos mal cheirosos (haja incenso), paredes que racham por falta de estrutura e sondagem do solo, e tudo mais acontece em várias dimensões espaciais e temporais - falta de conforto térmico, lumínico e etc. 

Para quem tem mais sensibilidade vai ser sempre incomodo, alguns se acostumam com as situações ruins e nem imaginam que podem viver com mais conforto e qualidade. Isso falando dos aspectos físicos, mas o que isso pode representar simbolicamente falando na vida de uma pessoa?  Águas representam bem nossas emoções em domoterapia, e recomendo que aquele registro que não para de pingar na torneira e chuveiro deva ser consertado, por exemplo, além do recurso hídrico desperdiçado.

É uma realidade que se apresenta, e tem muitas histórias de colegas. Pensei até pesquisar e escrever sobre o assunto relativo ao conflito deste encontro de "classes sociais" na construção civil, se assim posso dizer. As técnicas existem, parecem óbvias para quem pensa e tiver um pouco mais de consciência que é preciso estudar e não sair fazendo. 

Ninguém é dono de verdades, muito menos arquitetos, estes devem primeiramente ouvir os seus clientes, e estes antes de mais nada, devem escutar prioritariamente o profissional, ao invés dar ouvidos aos primeiros palpiteiros de plantão. Assim como os prestadores de serviços devem escutar os arquitetos e vice-versa. São relações como qualquer outra, onde a comunicação é fundamental, e os projetos, textos e planilhas fazem parte, assim como a fala deste diálogo tão salutar.     

Por hora, vamos passar o rodo depois do banho. Sds. Gabriel B. M. B. Gomes 

P.s.: Para o título desta postagem me lembrei do filme "A Barriga do Arquiteto" (The Belly of an Architect) comédia dramática do Peter Greenway de 1987. 
http://www.archdaily.com.br/br/01-44482/cinema-e-arquitetura-a-barriga-do-arquiteto



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